Béhen, de Joana Duarte, transforma enxovais em moda

100% digital, mas tão atento a novos nomes como sempre, o evento mostrou o trabalho de uma designer de moda que abriu as arcas da avó e descobriu o seu caminho.

Béhen significa irmã em hindi, é uma marca portuguesa que se apresentou na ModaLisboa e nunca esteve nos planos da sua criadora. Joana Duarte, a designer de moda nos bastidores do projeto acreditava que o futuro estaria numa casa de moda internacional depois do mestrado em Londres. Mas uma viagem à Índia, as recordações de infância e uma colcha adamascada que virou casaco mudaram a história.

Na coleção, explica a autora, “foco-me muito no enxoval, todas as minhas peças são feitas com tecidos antigos”, explica. Pegue-se num dos looks – calças e casaco estampados debruado com pelo amarelo – que apresentou na ModaLisboa e Joana conta a sua história: “É uma colcha, tipo tapeçaria, de veludo, que foi reaproveitada. O pelo amarelo vem de um casaco em segunda mão que comprei online.”

A história da Béhen começa com a avó de Joana, com quem ela sempre se habituou a visitar feiras de antiguidades, procurar tecidos, botões e etc. “Aprendi com ela como se via se o linho era de boa qualidade”. Essa experiência era apenas memória até que o mestrado em Londres (após a licenciatura em moda em Portugal) a fez perceber que o seu trabalho teria de envolver a palavra sustentável. “Tive uma crise existencial em que estava contra ser designer de moda quando já havia tantos, estava pronta para ir para outra área”, conta. “Fui a uma feira com a minha mãe e avó e vi uma colcha de um tecido adamascado muito bonito e pensei que podia fazer alguma coisa, sem poluir o planeta e sem usar tecidos novos”. Fez um casaco. E numa viagem à Índia apareceu a resposta que (ainda) faltava.

“Na Índia aprendi sobre saris que passam de geração em geração. Lembrei-me que tinha o mesmo em casa, lembrava-me das arcas”, diz, e continua: “Foi pegar no que estava nas arcas e transformar em peças”. Nasceu a Béhen: “É a minha história e a de muitas mulheres”.

Joana Duarte, 25 anos, oriunda de Santarém, foi uma das designers de moda que abriu esta quinta-feira mais uma edição da ModaLisboa, a 56.ª dos seus 30 anos de vida e a Béhen é “uma marca criada na pandemia”. Joana Duarte di-lo a rir, como que antecipando a pergunta que se segue: por que razão lançou alguma coisa no momento mais difícil? “É um desafio ainda maior conseguir que o projeto ande para a frente”.

Béhen só usa o que já existe. “Tenho de trabalhar com o que existe, mas também vou aprendendo sobre o que vai aparecer, agora estamos na época disto ou daquilo”, refere. Joana Duarte continua a frequentar feiras e, em tempo de confinamento, online. “Vem de França, de Inglaterra, chegam-me sugestões por whatsapp, são centenas de contactos, mandam-me fotos e passam a palavra. Ainda ontem estive a ver fotos de um enxoval”, conta.

O projeto é sustentável por conceito e, no âmbito de uma parceria com a Fundação Aga Khan, envolve mulheres do mundo inteiro que trazem as suas competências – costura e bordado, por exemplo. Pode não ficar por aqui. “Aprendi a não nos deixarmos apaixonar pelo projeto, mas pelo conceito. A minha paixão pela sustentabilidade e envolver mulheres do mundo inteiro”, diz. “A Béhen é uma semente dos valores que quero trabalhar”.

É a terceira vez que Joana Duarte mostra o que vale na ModaLisboa. “A primeira vez foi em março de 2020, uma workstation com seis looks, “uma semana antes de nos mandarem para casa”, a segunda em outubro com muito pouco público e agora em abril, só online”. “Nunca fiz a mesma coisa duas vezes”, nota. “Nunca tive a experiência da sala cheia, aquele frufru social”, acrescenta.

O programa continua esta sexta-feira, sábado e domingo, sempre online no site da ModaLisboa.

 

Fonte: DN.pt

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